A genêse da favela como território socioespacial na visão da sociológa Licia do prado Valladares, se constituiu a partir do mito da imagem da cidade de canudos na Bahia, construida junto a alguns morros, entre eles "O morro da favela", que recebeu esse nome por causa de uma planta chamada "favela" , que encobria a região de canudos. No fim do século XIX específicamente em 1897, os soldados que participaram da guerra desencadeada entre o exército Brasileiro e o movimento popular religioso, regressaram para o Rio de janeiro e por não terem recebido o soldo (remuneração), instalaram-se inicialmente em construções improvisadas sobre o morro da providência autorizados pelo ministério da guerra que, em referência a favela original, o local passou a ser chamado de "Morro da favela". Assim, a partir do século XX, as construções improvisadas sem saneamento básico nem água potável, ficaram conhecidas pelo nome de favelas, como a favela da praia do pinto, a favela da ilha das dragas na lagoa, assim como a favela da catacumba também em torno da lagoa Rodrigo de Freitas e que foi propriedade da Baronesa da lagoa Rodrigo de Freitas, posteriormente removidas a partir de 1970. Porém, diante das politicas de remoção adotadas pelos governos, em 1945 surgiram as comissões de moradores como antídoto ao autoritarismo da pedagogia civilizatória e em 1962 a "favela da vila vintém", tornou-se a primeira favela a ser urbanizada pelo governo utilizando a mão de obra local sob regime de mutirão. A socióloga "Licia Valladares", mostra como a expressão "favela", tem uma representação símbólica íntríseca muito forte, ligada a resistência à luta das populações oprimidas contra um agente social do estado, que é o exército.
1.2 HISTÓRIA
A história dos soldados de canudos, acabou se tornando no "mito de origem" das favelas , embora elas na verdade já existissem antes. As favelas em vez de serem pensadas como locais de moradias precárias de pessoas pobres, elas foram tidas como o lugar do atraso, da marginalidade, da falta de higiêne e da ausência da moral dando à ela um duplo sentido: o sanitário e o policial. Diante das diversas representações sociais, a pobreza era associada à vadiagem e esta por sua vez associada ao crime e a imoralidade. A favela passa a ser pensada como uma subcidade dentro da cidade do rio de janeiro: uma Européia e outra índigêna de acordo com a visão da socióloga Alba Zaluar(ver livro:"um século de favela"). Na visão de "Licia Valladares " em "A invenção da favela, do mito de origem a favela.com", essa era a idéia que dificultava à integração do morro ao asfalto e, sintetizava a separação do asfalto à favela, levando as autoridades a se recusarem a aceitarem a existência delas. Assim, a favela não é aceite como um novo espaço geográfico e social mas, como um território estranho e adverso, que ameaça a ordem social e moral, convivendo lado a lado entre os bairros e edifícios luxuosos na capital federal do Rio de janeiro. A partir do inicio do século XX, o surgimento de novas favelas, apresenta um processo de favelização semelhante ao apresentado com a chegada da campanha de canudos em 1897/1898. O crescimento das favelas no inicio do século XX acompanhou paralelamente, o ritmo de crescimento e da urbanização da cidade do Rio de Janeiro, que, por um lado havia propiciado um grande crescimento no processo de migrações de novas populações sem terras e sem opções de trabalho no campo. Assim entre o exôtico e o imaginário, a favela surge como um espaço inventado do ponto de vista das representações a ela impostas, tendo em vista os interesses distintos por parte do estado por um lado, e por outro lado, pela classe média e pelo setor imobiliário da capital do Rio de janeiro, cujas representações são legitimadas a partir dos interesses desses grupos, e que vão desencadear na implementação de politícas de remoção dessas populações para o subúrbio e zona oeste da cidade do Rio de Janeiro.
